PIEMONTE FM

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Machado explica como funcionava esquema e cita Vital do Rêgo como beneficiário

Delator diz que montou fundo para distribuição da propina. Ex-presidente da Transpetro diz que maior parte era paga em dinheiro.

O ex-presidente da Transpetro citou nomes de mais de 20 políticos como beneficiários da corrupção na Petrobras. Sérgio Machado disse que montou uma espécie de fundo de distribuição da propina. E a maior parte era entregue em dinheiro vivo. Em determinado momento, ele contou que ouviu relatos de que o grupo JBS iria fazer, em 2014, uma doação de R$ 40 milhões ao PMDB, a pedido do PT, para abastecer as campanhas do partido. Entre os beneficiários, o ex-senador paraibano Vital do Rêgo, então candidato a governador.
“Doação de 40 milhões, senador Renan Calheiros, Jader Barbalho, Romero Jucá, Eunício Oliveira, Vital do Rego, Eduardo Braga, Edison Lobão, Valdir Raupp, Requião e outros”.

O hoje ministro do Tribunal de Contas da União, Vital do Rêgo, preferiu não se manifestar sobre a denúncia, tendo em vista desconhecer os termos da referida delação. Informa que as contas de sua campanha para o Governo da Paraíba nas eleições de 2014 foram apreciadas e aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB).

DELAÇÃO

Sérgio Machado contou aos procuradores porque, depois de uma vida inteira na política, resolveu abrir o jogo.
“Meu objetivo com isso, excelência, é porque eu envolvi meus filhos, que não tinham nada que estar sendo envolvidos. Toda a ação foi minha. Então, não seria justo, nem eu teria paz na minha consciência, se eu assim não procedesse. E esse foi a razão fundamental”.
O esquema que ele descreveu parecia uma máquina de corrupção.
“É importante você compreender a engrenagem que é o seguinte. De um lado você tem os políticos que funcionam como se fossem um co-acionista da empresa ou do ministério. Do outro lado você tem as empresas querendo levar vantagem, oferecer vantagem através de aditivos etc. etc. e do outro lado você querendo dar resultado pra empresa”.
Machado disse que tratava da cobrança de propina com cerca de 12 fornecedores da Transpetro. Preferia aqueles com quem
tinha contato direto: presidente ou dono da empresa e disse que criou um fundo virtual com dinheiro arrecadado de forma ilícita, e mês a mês estabelecia quanto poderia distribuir para os políticos na forma de doação oficial ou em dinheiro vivo. A cúpula do PMDB era a prioridade.
“Você tinha um núcleo que era o núcleo que me colocou na Transpetro. Núcleo: Renan, Sarney, Jader, Romero e Lobão”.
Ele disse que grande parte do dinheiro desviado foi entregue ao PMDB.
“Cerca de, um pouco mais de R$ 100 milhões”.
Segundo Machado, R$ 1,5 milhão foi repassado para a campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo em 2012 a pedido do presidente em exercício Michel Temer, à época vice-presidente.
“Eu liguei para o vice Michel Temer, marquei um encontro com ele no aeroporto militar de Brasília, na sala vizinha à sala da presidência, acerca da campanha do Chalita. Eu disse que ia, que podia ajudá-lo, em um milhão e quinhentos, mas que depois eu informaria a ele a empresa. Telefonei depois a ele informando que esta doação seria feita pelo diretório nacional através da empresa Queiroz Galvão”.
Machado disse ainda que repassou R$ 850 mil para a campanha de Chalita a pedido do senador Valdir Raupp.
Temer também é citado por Machado em outra ocasião. Ele contou que ouviu relatos de que o grupo JBS iria fazer, em 2014, uma doação de R$ 40 milhões ao PMDB, a pedido do PT, para abastecer a campanha do partido ao Senado e citou quem seriam os beneficiados: Renan Calheiros, Jader Barbalho, Romero Jucá, Eunício Oliveira, Vital do Rego, Eduardo Braga, Edison Lobão, Valdir Raupp, Roberto Requião e outros.
A assessoria do senador Roberto Requião declarou que os gastos para a campanha ao governo do Paraná em 2014 foram declarados e as contas já foram aprovadas pela Justiça Eleitoral do estado.
Segundo Sérgio Machado, a doação aos senadores levou Michel Temer - ligado ao PMDB da Câmara - a reassumir a presidência do partido.
“Esse apoio financeiro do PT provocou ruído na Câmara e acabou por forçar o presidente Michel Temer a reassumisse a presidência do PMDB visando controlar a destinação dos recursos do partido”.
Esquema sofisticado para pagar propina
Sérgio Machado montou um esquema sofisticado para fazer os pagamentos de propina. Os líderes do PMDB, contemplados com os maiores valores, podiam escolher como e onde receberiam a propina, que chegava todo mês. Parte era destinada a doações oficiais de campanha. O resto, a maior parte, era entregue em dinheiro vivo. E não era simples administrar tantas exigências.
O senador Edison Lobão queria uma parcela maior sob o argumento de que era ministro de Minas e Energia, que controlava a Transpetro. E exigia o pagamento em dinheiro vivo, normalmente no Rio de Janeiro. Quem buscava era o filho de Lobão, Márcio.
Pergunta: No seu anexo consta que o Lobão teria dito pro senhor que queria receber essas propinas em dinheiro e no Rio de Janeiro.
Machado: Exatamente. Bom, e aí na data certa, naquele horário, conforme programação que o Márcio tinha, ela era recebida.
Nesse encontro que eu tinha com o Márcio, definia nomes, codinomes, horários que seria entregue.
O senador Jader Barbalho insistia muito. Queria ganhar mais. Segundo Machado, ele recebeu R$ 4,2 milhões.
Mas o preferido era sempre Renan Calheiros, de acordo com o delator. Nas contas de Machado, Renan foi o pemedebista que mais recebeu dinheiro do esquema: R$ 32 milhões; ganhava até uma mesada de R$ 300 mil.
“A partir de 2008 a gente faz aquela reunião no início do ano e programa-se para o ano, e nós passamos a dar uma contribuição de cerca R$ 300 mil reais durante dez, 11 meses”.
Pergunta: Para o Renan?
Machado: Para o Renan.
Pergunta: Também é correto dizer que nos anos eleitorais eram acrescidos?
Machado: Acrescidos por doações.
Machado inventou uma estratégia para disfarçar a movimentação suspeita. Ao entrar no Senado para combinar pagamentos ao senador Romero Jucá, não usava a porta da frente.
“Eu ia lá, entrava pela garagem, fazia a reunião mensal ou bimensal, passava a data, o local, o codinome, e quem ia dar e quem ia receber, entregava a ele e ele mandava o portador dele receber”.
Sérgio Machado disse que ouviu de todos os políticos a mesma história que lhe contou o ex-senador José Sarney: estava enfrentando dificuldades para manter sua base política e precisava de ajuda financeira. Os pagamentos a Sarney foram feitos de 2006 a 2014.
“Nós, ao longo desse período, foi distribuído para o Sarney R$ 18,5 milhões, sendo R$ 2,250 milhões em doações oficiais”.
Machado disse que um dos repasses, de R$ 400 mil, foi feito ao filho do ex-senador, o atual ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho.
Ajuda a políticos do PCdoB e do PT
Machado também cita ajuda a políticos do PCdoB e do PT, principalmente em época de eleição.
Machado disse que sempre manteve uma relação de proximidade política com o ex-deputado Cândido Vaccarezza, que se encontrou com Vaccarezza em um hotel em Brasília, e disse que poderia ajudar com R$ 500 mil por meio de doação oficial ao diretório do PT em São Paulo.
Machado também relatou que em 2010 contatou a Camargo Corrêa e pediu apoio à campanha da ex-ministra Ideli Salvatti, que à época era líder do governo no Senado. O repasse, também por meio de doação oficial, foi no valor de R$ 500 mil.
O ex-presidente da Transpetro ainda contou que sempre era procurado por Jorge Bittar para solicitar ajuda no período eleitoral. Em 2010, Machado disse que conseguiu intermediar o pagamento de R$ 200 mil pela Queiroz Galvão ao diretório do PT do Rio de Janeiro.
Machado conta que também foi procurado pelos petistas Edson Santos e Luís Sérgio, e Jandira Feghali, do PCdoB, e os ajudou.
“Eu doei pra Jandira em 2010 R$ 100 mil, da empresa Queiroz Galvão; e ao Luís Sérgio doei duas vezes, em 2010, da empresa Queiroz Galvão, R$ 200 mil; e em 2014, da empresa Queiroz Galvão, R$ 200 mil. Edson Santos era um deputado federal pelo Rio de Janeiro, que me procurou no início de 2014, se eu podia ajudá-lo com uma campanha. E ajudei com R$ 142 mil da empresa Queiroz Galvão”.
Machado disse que embora a palavra propina não fosse dita, os políticos sabiam que não receberiam dele doação de recursos próprios.
“Eu nunca disse que era propina, mas eu acho que dificilmente alguém no meio político que esteja em atuação, que tenha disputado eleição não saiba como funciona o sistema. Você nunca fala nesse tipo de doação, embora eu ache que, dentro do meio político, todo mundo sabe a origem
Em nota, a deputada Jandira Feghali disse que nunca negou que esteve em algumas ocasiões com o então presidente da Transpetro Sérgio Machado. Mas disse que todas as doações recebidas em suas campanhas eleitorais foram lícitas, registradas, e aprovadas pela Justiça Eleitoral.
Sérgio Machado disse também que intermediou o pagamento de propina no valor de R$ 250 mil, pela Queiroz Galvão, ao então presidente do PP Francisco Dornelles durante as eleições de 2010. O valor teria sido destinado ao PP do Rio de Janeiro.
Repasses ao PSDB
Ele também explicou como fez repasses de dinheiro para o PSDB na eleição de 1998. O objetivo era eleger o maior número possível de deputados.
“Nossa ideia era que o partido pudesse eleger uma grande bancada, era poder contribuir de 100 a 300 mil reais por candidato pra que pudesse ajudar na sua campanha. Focamos em 50. Ficou acertado da gente receber R$ 4 milhões da campanha oficial, que veio através do Luiz Carlos Mendonça de Barros, que na época era ministro das Comunicações. E os outros R$ 3 milhões, nós passamos em diversas empresas. Uma delas, que eu me lembro, foi da Camargo Corrêa, que nos deu R$ 350 mil em espécie na casa do Luiz Nascimento. A Camargo sempre foi uma boa financiadora do PSDB”.
Machado contou que ao todo foram arrecadados R$ 7 milhões, que foram distribuídos em várias parcelas. A maior parte, segundo ele, ficou com Aécio Neves.
“O Aécio disputava eleição pra deputado federal, e ele ficou com R$ 1 milhão desses recursos, em dinheiro. Ele mandava um portador dele, que era um rapaz jovem, moreno, que andava sempre com uma mochila, e sempre com roupas casuais”.
O PSDB divulgou nota assinada pelos senadores Aécio Neves e Cássio Cunha Lima, e o deputado Antônio Imbassahy.
O partido diz que “tentar envolver líderes do PSDB em atos supostamente ocorridos há 18 anos, sem qualquer fato que os comprove, apenas demonstra o desespero de alguém que, para obter vantagens em sua delação, não se constrange em caluniar e difamar”.
Além disso, diz a nota, “Machado jamais teve qualquer função de arrecadação de recursos nas campanhas do PSDB”.
Machado disse ainda que, tempos depois, em 2006, precisou de ajuda para aprovar no Senado um projeto que definia o limite de endividamento da Transpetro. Na época, ele procurou o senador Sérgio Guerra, do PSDB, que morreu em 2014. Guerra disse que procuraria o senador Heráclito Fortes, que era o presidente da comissão onde o projeto estava parado.
“Quando chegou na Comissão de Infraestrutura, o projeto começou a ter dificuldade de avançar. Eu procurei o senador Sérgio Guerra. Ele me descreveu a dificuldade porque tinha senador que só aceitava pautar se houvesse doações pra campanha. Aí eu voltei a ele e disse que poderia pagar R$ 2 milhões, R$ 1 milhão para ele e outro R$ 1 milhão para o Heráclito. R$ 1 milhão dele eu paguei no ano seguinte em dinheiro, do fundo, e a parte do Heráclito, metade foi paga em doação oficial. Em 2014, ele me cobrou bastante pra pagar a outra metade. Como eu não tinha recurso, inclusive tem várias ligações dele pra Transpetro. E eu não tinha recurso e não pude honrar o compromisso. E aí depois que ele fez esse acerto, que nós combinamos, rapidamente o projeto entrou em pauta, e foi aprovado”.
Heráclito Fortes era do Democratas nessa época, hoje, é deputado federal pelo PSB. Machado também citou outros políticos, entre eles o senador José Agripino Maia, e o filho dele, o deputado federal Felipe Maia, os dois do Democratas.
“Eu fiz doação pra ele em duas vezes. Uma em 2010, ele era candidato a senador, de R$ 300 mil da construtora Queiroz Galvão. E em 2014, ele me pediu pra mim fazer doação para o filho dele, que era candidato a deputado federal, Felipe Maia”.
Pergunta: Isso em 2014?
Machado: É, também da construtora Queiroz Galvão.
Pergunta: Qual o valor do Felipe Maia?
Machado: Felipe Maia foi 250. Total, 550.
 
Por Redação com Jornal Nacional

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